sábado, 28 de julho de 2007

Confissões de um pai

" se for ladrão eu denuncio para a polícia. Sou trabalhador e aceito ter um assassino dentro de casa, mas um filho ladrão não admito". A declaração atrás de mim, logo me chamou atenção. Eu que vinha tão cansada com a cabeça recostada no ombro do namorado e, em vão tentava folhear um livro no balançar do ônibus que com os buracos da camada asfáltica torna a viagem a caminho de casa bem mais estressante.Mesmo assim, consigo observar as pessoas, tentar planejar o que vou fazer no resto do dia...só não faço mentalmente a lista do supermercado, pq eu não sou responsável por isso em casa.
Bem, ao ouvir a declaração, o meu primeiro impulso foi de virar para trás e ver de quem eram essas palavras, mas o bom senso e a vergonha de ouvir a conversa alheia me impediram de fazer isso logo. Enquanto isso, a voz meio revoltada continuava a falar. Percebi uma revolta ao anunciar o que seria apenas uma desconfiança de um filho. Esse relato era feito a uma ouvinte muda que não usava nem o bom e velho artificío do: " É verdade", que eu gosto tanto.
Depois de uns cinco minutos consigo, disfarçadamente, olhar para o denunciante/pai. Era um homem negro que não tinha uma mão ( fato logo relatado, perda em acidente de trabalho, mas não consegui saber qual). A confissão era para uma desconhecida que contava os segundos para o fim da viagem ( a dela ou a dele). Ele chegou primeiro ao destino, ao caminhar para a porta continuava a entoar feito uma ladainha de domingo, algumas palavras de sua opinião sobre o filho ladrão que talvez fosse imaginário. Nesse momento, percebi que talvez não tivesse filho, nem uma família sustentada com tanto sacrifício e dignidade. Talvez aquele homem enchesse a cara, chegasse em casa e descesse porrada na companheira e nos filhos. A realidade é o que não está em questão neste momento.
O que ele queria era ser ouvido, demonstrar uma opinião que talvez nem fosse verdade, mas era a imagem que se gostaria de demonstrar naquele momento. O homem buscava atenção nem que fosse de desconhecidos, incomodados com aquele barulho em um ônibus lotado. Confesso que no início também fiquei incomodada com aquela conversa alta. Eu estava com fome e nem percebi que aquele papo era um reflexo de solidão. Não fui atrás dele, segui com meus pensamentos e ele com a sua dor...

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NEY FARIAS disse...

BRUNA, MEU ANJO, ALGUÉM, COMO EU, QUE ENTENDE DE SOLIDÃO MUITO BEM, DEVO RECONHECER QUE ACHEI COMOVENTE SEU TESTEMUNHO A RESPEITO DO DRAMA PARTICULAR DAQUELE HOMEM NEGRO QUE VOCÊ TÃO BEM ESCREVEU. ÀS VEZES, A VIDA VAI PARA A ESQUERDA, QUANDO VOCÊ SONHA QUE VAI PARA A DIREITA. ÀS VEZES, É UMA GUERRA SEM FIM, QUANDO A PESSOA TANTO DESEJA UM PASSEIO NO PARQUE E PIQUENIQUE.
SONHO COM A ALEGRIA DE TODOS E FELICIDADE GERAL DA NAÇÃO. SOU OTIMISTA. E VOCÊ?

BEIJOS.

Anônimo disse...

muito bom........
heheh!!1
vc escreve bem.......