terça-feira, 30 de novembro de 2010

Saudade

A cidade não chora por mim
Nada mais me comove (assim de tão perto)
Em uma terça-feira de calor
Esperar Godot nunca é fácil
Beijo os seus olhos
Ato de delicadeza essencial
Você não entenderia
Viver cansa demais
E isso distrái a cidade
Eu amo sempre e mais
Para distrair a saudade
( e saudade sempre passa)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Erotismo a flor da pele

Espero por você na biblioteca. Em qualquer uma ou em todas elas...


Outro dia escrevi um poema que postei aqui no blog e dediquei ao amigo Marcio Pombo, músico, ator e todas as outras possibilidades artísticas que ele pode desempenhar. Conheci pelas voltas que esta Internet dá e desde então, disse que um dia mostraria um dos meus poemas que sempre escondia. Não mostrei nenhum antigo, criei um novo para ele logo depois que assisti ao filme "O Livro de Cabeceira", de 1996 quando eu era uma teen boba e banal. Em resumo o filme fala sobre uma moça que se torna escritora, mas as coisas não são só isso.
Nagiko cresceu em uma tradicional família japonesa, sua mãe morreu, e seu pai (Ken Ogata), escritor, a cria com a ajuda da tia (Hideko Yoshida). A cada ano, em seu aniversário, seu pai escreve de forma ritualística uma saudação em seu rosto e nuca. Com o tempo, Nagiko passa a aguardar ansiosamente tais momentos. Sua tia a presenteia com um livro de uma escritora japonesa do final do século dez, chamada Sei Shonagon, o Livro de Cabeceira.
Parece simples o resumo, mas a força poética deste filme é muito intensa, principalmente, quando Nagiko ao invés de só esperar as escritas passa a escrever também nos corpos de seus muitos amantes. A relação com um tradutor bissexual interpretado por Ewan McGregor  apimenta ainda mais cada um desses rituais, mas não vou contar os detalhes do filme, o que me impressionou foi o roteiro com linguagem absolutamente poética, sedutora e que te prende do começo ao fim e não te deixa passar impune. Em várias cenas eu quis rever, anotar trechos e ainda completamente apaixonada pelo filme, escrevi o poema. Se minhas recomendaçoes são válidas, acho que vale muito à pena procurar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pelo sabor



Mas se eu ousar amar pelo sabor do gesto

Te empresto da maçã, vai junto o coração
Esquece o que eu não fiz
Te sirvo o bom da festa
De um jeito mais feliz


(Pelo Sabor do Gesto-versão Zélia Duncan)

domingo, 21 de novembro de 2010

Cortar

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

(A Moça Tecelã-Marina Colasanti)



"Escrever é cortar palavras..." a frase é quase uma máxima do jornalismo, principalmente, para quem vezenquando precisa assumir a edição de uma página e precisa cortar, escolher palavras mais curtas, transformar parágrafos para que o texto fique sucinto e que não perca o sentido.
Essas mudanças também fazemos na vida, mudamos de caminho, abreviamos relações, vivemos histórias mais curtas, haicais, contos de uma página (ou uma noite) e nas viradasde páginas nem percebemos que não temos apenas um livro. Temos uma biblioteca inteira com livros de tamanhos e capas bem diferentes, histórias bem feitas, romances polêmicos, bobos, diferentes, com trilhas sonoras exclusivas ou dotadas de um empréstimo barato da história quase principal.
Tenho eu, alguns livros que, de vez em quando, trancada na minha biblioteca afetiva começo a pensar como seria se eu reescrevesse hoje. Algumas cenas me fazem rir bastante, outras ainda conseguem me trazer algumas mágoas. Só que tinha um livro em especial que me incomodava muito, não pela história ter tido vários desdobramentos que eu não queria e desconheço até hoje porque se encaminharam desta forma, nem era mais isso que me incomodava e sim o fato de não ter um final.
Nem todas as histórias possuem finais felizes e eu não estava em busca de um, mas de alguma frase de efeito, um acontecimento novo, algo que motivasse a finalizar em grande estilo aquela história. Tem algumas semanas que venho observando como seria possível colocar o ponto final. Procurava, avaliava elementos, rememorava grandes mágoas e ainda assim faltava alguma coisa.
Mas hoje, enquanto relia os últimos capítulos que foram escritos por nós dois, percebi que não faltava mais nada e que qualquer parágrafo a mais ia deixar esse livro sem sentido, sem condições de virar roteiro para novelas ou filmes e, então tal qual a moça no bastidor que bordava a bela paisagem no conto de Marina Colasanti, eu bordei a fita em meus cabelos, arrematei o ponto e, com muito cuidado, cortei a linha.




quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Troca

Uso
Parece conveniente
Uso o seu corpo
Quando eu quero
Não é roubo
Em troca
Ofereço o meu
E outros elementos que você não conhece
Não tem acesso rotineiramente
Sua oferta é menor
É apenas física
É o que eu quero naquele momento
Fast Food de sentimentos
Consigo aproveitar a oferta
Não te deixo feliz
Nossa troca não e justa
Eu sempre saio ganhando

Corpo


Conheça primeiro o meu corpo

Para depois entender como ele funciona
Como ele te olha
E te sente

Você tem uma noite
Enquanto arrumamos as malas
Estude a anatomia
Nem sempre se tem uma mulher tão perto
Que não se deve tocar
Apenas olhe
Se possível chegue mais perto
Sinta a respiração
O cheiro
Toque devagar (sem que eu perceba)
E guarde boas lembranças
Não é uma despedida
É apenas o primeiro encontro

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Não

Não

Eu não vou
Escrever pra você
Não pode ser
Porque não te conheço de fato
Não sei o cheiro
Não sei o tato

Apenas rebato o desejo
No espelho da canção
Disfarço o sim
Cantando o não
Tudo por abstração
Tudo pura abstração
Não, é pra você essa canção
Não, Não, Não

(Não- Paulinho Moska)
Sim, postei pra você

Amor?!

Minhas canções não são mais sagradas
Tudo tem dois lados
Melhor aproveitar
Reciclagem de sentimentos
Economia de imaginação
Poemas sem nomes
Que podem term vários  ao mesmo tempo
"cherie" pode ser você
como pode ser a outra
Eu te amo
Isso nunca foi tão banal
Eu te amo hoje
Amo aquela amanhã
Depois...nunca se sabe
Os beijos
As bocas
São as mesmas
Ou são diferentes
Não importa
Importa somente a vontade de se grudar em alguem
Foda-se quem!
Sentimentos? Em falta no mercado livre
Tente mais tarde

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Poema bobo

Você já me pediu poemas
Sou de prosa
Na sua frente eu não sei o que escrever
Sinto-me nua apesar das roupas
Sem toques, sinto-me abraçada
Já te pedi poemas
Peço que escreva
Use meu corpo como páginas do seu livro
Já sei o bastante
Já escrevi muito
Cansei de ser apenas a caneta
Tenho em mim uma lista de coisas que fazem meu coração pulsar mais forte
Ofereço a minha pele para que escreva o seu livro de cabeceira

Texto dedicado a Márcio Pombo para quem sempre devo poemas