sábado, 9 de outubro de 2010

Minha fúria odiosa já tá na agulha 
(Esperança Cansa-Karina Buhr)



Embora eu saiba que preciso cuidar da saúde, faço exames quando é o jeito. Se esse exame for de sangue...Sempre piora! Não gosto de olhar meu sangue quente deixando meu corpo assim, lindo e vermelho. No entanto, o ato de não gostar não tem ligação com nenhum bloqueio em não conseguir olhar o próprio sangue. Diferente do resto de mim, minhas veias são muito tímidas e bailarinas (vejam só, e eu, não danço nada) elas insistem em se esconder da agulha. Funciona assim: alguém fura meu braço, minha veia foge e eu grito de dor.


Pois bem, ontem foi dia de sangue, lágrimas e pânico. Enfim, nos exames periódicos sabia muito que as coisas não iriam acabar bem, quando a moça da coleta, depois de olhar um braço, o outro, tentar a mão decetou: “Você tem veias fujonas, elas dançam muito, vai ser difícil pegar”.
Neste momento, comecei a sacar o que aconteceria:  eu e minhas veias bailarinas iríamos dançar bem bonito. Na recomendação da moça, enquanto ela apertava meus braços, dava pequenas pancadas na veia com os dedos, eu fechava e abria a mão para quem sabe em mim aparecessem traços de que em mim há circulação sanguínea e, neste momento, lembrava do senhorzinho simpático de um laboratório que tira meu sangue desde criança e nunca, nunca errou, nem tendo veias que gostam de samba, afinal, um bom cavalheiro sempre sabe chamar uma moça pra dançar e, assim, minhas veias seduzidas pela leveza  sabiam dançar bem devagar, para acompanhar o meu sangue.
Aí, meus pensamentos de infância foram quebrados pela primeira agulhada, a segunda, a terceira, a quarta e...ufa, finalmente, ela acertou o alvo.
Eu, de olhos fechados, tenho que ouvir da moça a justificativa: “Você fica muito tensa, por isso que sua veia dança”
Eu: “Se você tivesse sido furada tantas vezes...também ficaria tensa”
Saldo da carnificina: quatro furos no braço, um imenso hematoma e a certeza que o Conde Drácula sugaria com mais delicadeza o calor de dentro do meu sangue vermelho.

1 sobrou pra você!:

Roberto disse...

Eu ainda vou me vingar por ti.