quarta-feira, 31 de março de 2010

A nossa vida em trilha sonora

Quando eu tinha 16 anos, tinha uma colega de escola que toda vez que arrumava um namorado escrevia nas cartinhas de amor os mesmos trechos de canção. Lembro que ela tinha um pagode preferido: "Sem você minha vida é vazia demais, não existe no mundo outro amor capaz". Nunca gostei de pagode, mas como eu era a conselheira amorosa oficial da galera, passava pelo meu crivo esse tipo de coisa.
Na minha avaliação,achava a guria ( que hoje não lembro o nome), pouco criativa. Onde já se viu, aproveitar as mesmas músicas pra homens diferentes?
Eu tinha certeza que as músicas deviam ser como os sentimentos, elas precisavam ser únicas. Exemplo: se eu tivesse um namorado que gostasse de Nando Reis, mesmo que a paixão acabasse, aquele seria nosso trato, nosso baú de canções sagradas e eu não ousaria ouvir All Star e cantar para outra pessoa. No entanto, o tempo vai fazendo com que a gente amadureça, uma canção é só uma canção, meus ex com toda certeza já ouviram Nando Reis, Chico Buarque, Moska e Paralamas com uma infinidade de pessoas diferentes.
Pedro Luis ja me falou faz tempo: "As paixões passam, as canções ficam...", meu amigo Roberto tambem acha que esse negócio de amor é besteira, afinal a gente acaba usando as mesmas músicas. Não se trata de substituir lembranças, mas é hora de permitir que algumas músicas da trilha sonora possam tocar em outros momentos da novela.

terça-feira, 16 de março de 2010

Quando realmente acaba?

Como moça romântica que sou, sempre tive muitas dúvidas de como um namoro ou uma amizade...enfim, um relacionamento verdadeiramente acaba.Quando adolescente eu achava que chegava ao fim quando um decidia que não era mais conveniente ficar com o outro, faltava a vontade de beijar, o tesão que apimenta qualquer relação, aí fui crescendo e vi que não era bem assim.
O amor não acaba com a separação de corpos, por muito tempo ainda fica a essência, a lembrança dos bons momentos, os sorrisos soltos e os olhares apaixonados que um dia fizeram parte da história. Um deles vai sentir muito a falta, o outro nem tanto assim...mas vai ser assim e isso mostra que ainda existe muita coisa viva...pelo menos por um tempo.
Mas aí um dia, as lágrimas vão ficando cada vez mais escassas, o vazio ainda pode acontecer naquela tarde em que se escolheu para uma sessão de cinema no sofá. É quandoo se acabam os motivos para ligar ou que parece não mais fazer sentido fazer aquela ligação no meio da tarde pra contar que recebeu um elogio no trabalho ou que terminou enfim de ler aquele livro e que ele estava certo, não era tão bom mesmo. Não tem sentido, pois a rotina ficou distante...um não sabe mais o livro que o outro está lendo, as músicas já não são mais as mesmas e o elogio no trabalho passou a ser uma situação banal para quem ouve ( até mesmo para quem conta).
As ligações não são mais "as nossas conversas demoradas"...eles são estranhos que um dia estavam próximos. Não tem sentido, não existe mais...Ainda assim...teima em doer

segunda-feira, 15 de março de 2010

Quando a vida desiste



Com o brega e equivocado título em português de Direito de Amar, o filme A Single Man, trazendo bons nomes como Colin Firth  e Julianne Moore constrói a história em um emaranhando de clichês, mas nem por isso deixa de ser um filme denso, com direção e argumentos sofisticados para narrar uma desilusão amorosa, expondo dores que ultrapassa a relação com a tela.
Na sinopse, George (Colin Firth) é um professor de inglês, que repentinamente perde seu companheiro de 16 anos. Sentindo-se perdido e sem conseguir levar adiante sua vida, ele resolve se matar. Para tanto passa a planejar cada passo do suicídio, mas neste processo alguns pequenos momentos lhe mostram que a vida ainda pode valer a pena.
E a direção mostra bem a oscilação de humor do protagonista, por exemplo, as lembranças são dotadas de uma cor mais viva, mais vibrante, enquanto o presente é marcado por uma penumbra e alguns lapsos de colorido. Alias, vale lembrar uma cena em especial, quando George conhece um garoto espanhol que foi para os Estados Unidos tentar a vida como ator ou modelo. As cores são as melhores que o cinema me proporcionou nos ultimos tempos...também gosto dos closes em olhares, bocas. Ressalto ainda a pequena, mas magnifica participação de Julianne Moore. Desequilibrada na medida certa de uma mulher apaixonada e frustrada com o que a vida proporcionou
O filme, possivelmente, é ambientado na década de 70, a julgar pelos figurinos, mas essa cronologia não fica bem clara na película. Vale completamente o tempo de 1h41 mn (muito pequeno, eu diria). Vale pela dor de Colin Firth na pelo de George, pela paixão da frívola personagem de Julianne Moore. Excelente pedida!
Fico tão cansada às vezes, e digo para mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. (...)então eu não sentia nada, podia fazer as coisas mais audaciosas sem sentir nada, bastava estar atenta como estes gerânios, você acha que um gerânio sente alguma coisa? quero dizer, um gerânio está sempre tão ocupado em ser um gerânio e deve ter tanta certeza de ser um gerânio que não lhe sobra tempo para nenhuma outra dúvida..."

sexta-feira, 12 de março de 2010

Não seja tão exigente com você

Até bem pouco tempo, eu andava cobrando tanto de mim, mas tanto que estava minimizando a importância de momentos essenciais na vida, por exemplo, passar horas no telefone jogando conversa fora com o melhor amigo, sair, rir, ficar de pilequinho....fugir do inusitado.Era tudo muito correto, muito prático: eu gostava ou não gostava, não existia meio termo. Se desse errado, lógico que a culpa era minha. Amizades desfeitas...nunca que eu ia dizer que era um problema dos dois...Imagina se eu ia pensar isso? Claro, a culpa era toda da Bruna.
Ano passado, conversando com um amigo e ele mencionou sem mesmo dar muita atenção ( acho até que ele não se lembra bem): "Querida, você se cobra demais". E não sei se foi o sol...ou o distanciamento de alguns problemas, realmente me dei conta que a vida não deixa de passar se eu não estiver lá participando. Os anos passam e se eu não aproveitar pra dizer aos amigos o quanto eu gosto deles ( hoje falo com mais frequência), talvez eles não vao ficar sabendo.
Hoje me permito criar novas possibilidades, ir em lugares que eu não frequentava ou que até frequentava, mas nao gostava tanto assim. O inusitado, a surpresa é a essência da vida, é responsável pelas nossas mudanças. Não, não estou dizendo pra sair agora do trabalho e curtir uma praia...até para ser irresponsável, a gente tem que se preparar para ela...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Definição

Sou cheia de manias. Tenho carências insolúveis. Sou teimosa. Hipocondríaca. Raivosa, quando sinto-me atacada. Não como cebola. Só ando no banco da frente dos carros. Mas não imponho a minha pessoa a ninguém. Não imploro afeto. Não sou indiscreta nas minhas relações. Tenho poucos amigos, porque acho mais inteligente ser seletivo a respeito daqueles que você escolhe para contar os seus segredos. Então, se sou chata, não incomodo ninguém que não queira ser incomodado. Chateio só aqueles que não me acham uma chata, por isso me querem ao seu lado. Acho sim, que, às vezes, dou trabalho. Mas é como ter um Rolls Royce: se você não quiser ter que pagar o preço da manutenção, mude para um Passat.

Texto atribuído a Fernanda Young, mas preciso de confirmação

quarta-feira, 10 de março de 2010

É eunuco, mãe...

Papai tosse, dando aviso de si,
vem examinar as tramelas, uma a uma.
A cumeeira da casa é de peroba do campo,
posso dormir sossegada. Mamãe vem me cobrir,
tomo a bênção e fujo atrás dos homens,
me contendo por usura, fazendo render o bom.
Se me tocar, desencadeio as chusmas,
os peixinhos cardumes.
Os topázios me ardem onde mamãe sabe,
por isso ela me diz com ciúmes:
dorme logo, que é tarde.
Sim, mamãe, já vou:
passear na praça em ninguém me ralhar.
Adeus, que me cuido, vou campear nos becos,
moa de moços no bar, violão e olhos
difíceis de sair de mim.
Quando esta nossa cidade ressonar em neblina,
os moços marianos vão me esperar na matriz.
O céu é aqui, mamãe.
Que bom não ser livro inspirado
o catecismo da doutrina cristã,
posso adiar meus escrúpulos
e cavalgar no torpor
dos monsenhores podados.
Posso sofrer amanhã
a linda nódoa de vinho
das flores murchas no chão.
As fábricas têm os seus pátios,
os muros tem seu atrás.
No quartel são gentis comigo.
Não quero chá, minha mãe,
quero a mão do frei Crisóstomo
me ungindo com óleo santo.
Da vida quero a paixão.
E quero escravos, sou lassa.
Com amor de zanga e momo
quero minha cama de catre,
o santo anjo do Senhor,
meu zeloso guardador.
Mas descansa, que ele é eunuco, mamãe.

(Moça na sua cama- Adélia Prado)

terça-feira, 9 de março de 2010

Já mudou no orkut?

É engraçado que com o avanço tecnológico, as formas de relacionamentos mudaram tanto. Por exemplo, na época da minha mãe ou até mesmo na minha, no comecinho da adolescência quando a telefonia móvel não era tão desenvolvida e nem todo mundo tinha acesso a internet, como era mais fácil terminar um relacionamento. Era só parar de ligar e evitar andar nos mesmos lugares que o cabra costuma ir. Pronto! As possibilidades de ficar remexendo sua mágoa eram bem menores. Ele não atualizava fotos no orkut (não existia) e não tinha twitter, facebook e nem o maldito msn para pertubar a paciência e suas mil e uma maneiras de rejeição.
E não é só as formas de aproximação das pessoas que ficou mais dificil de administrar. Vocês já repararam como, para quem tem orkut, uma coisa só acontece quando vira atualização de lá. As  fotos da viagem de férias e as mudanças no estado civil. Lembro de ter ouvido um amigo perguntar: "Já mudou no orkut?" e de uma amiga me contar "Fulano tá solteiro, tirou namorando do orkut" ( Claro que isso ela disse seguido por um gritinho beeem peculiar de felicidade extrema).
As coisas boas também só são legitimadas no Orkut. Hoje, por exemplo, é o aniversário de um grande amigo meu e sim, logo que deu meia-noite, liguei pra ele, coloquei recadinho no Orkut e para finalizar a homenagem virtual  coloquei uma foto dele no MSN. Agora, licencinha, vou escrever no Twitter...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Salmo 23

O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará.

Deitar-me faz em verdes pastos,
guia-me mansamente às águas tranquilas;
Refrigera a minha alma,
guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome,
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte
não temeria mal algum, porque tu estás comigo,
a tua vara e o teu cajado me consolam;
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos,
unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda;
Certamente que a bondade e a misericórdia
me seguirão todos os dias de minha vida,
e habitarei na casa do Senhor por longos dias.

Amém.