quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ao físico

Já sofri recentemente por causa de judiarias com meu coraçãozinho, mas nunca me senti tão à vontade para escrever sobre estas desventuras. Acho que "um dia ainda vou rir disso tudo" talvez ainda não tenha chegado, enquanto isso, volto alguns anos no meu histórico amoroso
Eu tinha 17 anos,  não era ingênua ou pouco informada. Desde criança ouvia boa música e gostava de toda a literatura obrigatória da escola. Era tímida, não era bonita e isso facilitava a minha concentração, ganhei gosto pela coisa,  antes dos 18 já conhecia Rubem Fonseca, tinha preferência por Lígia Fagundes Telles, Caio Fernando Abreu e não conhecia apenas trechos de Clarice Lispector (eu  li Perto do Coração Selvagem, aos 17), mas tinha dificuldade com Física. Em Matemática, química, eu ia muito bem, mas com Física rolava um bloqueio natural.
Resolvi ter a minha primeira paixão platônica e tinha que ser, justamente, o mais irritante de todos os seres que eu já conheci. Eu, 17 anos, com beleza adolescente e simpatia por tudo. Ele, 25, menor que eu, muitas marcas de espinhas no rosto e uma antipatia capaz de despertar a fúria de todos os alunos da sala...menos a minha. Quanto mais cínico, mais despertava minha atenção. Eu era dedicada e logo as boas notas chamaram atenção dele que passou a me tratar com carinho, me chamava de "bruninha". E isso aumentava a minha empolgação juvenil.
As aulas acabaram, eu ia sair da escola. No último dia de aula, quando a noite chegou, Nando Reis bem que podia ter cantarolado " Você pode ter certeza de que seu telefone irá tocar" e assim foi. Eu atendi e, do outro lado da linha: "Desculpe o tardar das horas, a Bruna se encontra?". Horas de conversas, ele tentava me impressionar com os conhecimentos prevísiveis de literatura e eu, empolgada como ainda sou, mostrava todo o meu conhecimento de autores, papo bem superior a média das meninas da minha idade.  Li o livro da Lígia e decidi que o conto "A estrutura da bolha de sabão" era dele, achava que ia agradar, mas acho que ele ficou meio chateado por não conhecer)  a conversa evoluiu, fui a formatura dele, mas a paquera da época, hoje eu chamaria de "frescura em grau maior", pois evoluía pouco, tudo bem, na época eu tinha tempo a perder.
Foi aí que teve o show de Ana Carolina, ele ligou e pediu que eu o esperasse. Lá fui eu, com minhas irmãs, prima e o coração cheio de expectativa. Mal pude acreditar quando eu o avistei com as minhas retinas tão fatigadas. Ele se aproximava, mas não estava sozinho. Do seu lado, uma jovem senhora (volto a dizer, eu era muito novinha e qualquer trintona era adulta demais pra mim), muito feia (aos meus olhos, claro) e ela tinha uma rosa na mão. Sim, ele marcou comigo e foi com ela, acho que meu coração relativamente inexperiente não precisava passar por isso. Meses depois, ele casou e escolheu para o enlace, dois dias antes do meu aniversário.
Soube que ainda continua dando aulas na mesma escola, continua antipático, parece que ainda casado. Em uma véspera de Natal, de um ano qualquer, eu o encontrei no shopping. Ele disse: Bruna, vc se tornou uma mulher muito interessante.
Agradeci com um sorriso que qualquer Monalisa iria ficar morta de inveja e segui em frente. Não olhei para trás e não senti nada

3 sobrou pra você!:

Ceiça Simões disse...

Bruna minha querida,eu simplesmente ADOROOOOO teus textos.Adorei esse e quer saber,acho que qualquer garota da nossa idade sabe bem do que você está falando.

Beijos.

Anônimo disse...

também vivi momentos bastante interessantes aos 17, e li "Perto do Coração Selvagem" com essa mesma idade; é uma época que o mundo gira em nossa cabeça, mais rapidamente do que ao empurrarmos um globo com toda nossa força

Gaúcha*** disse...

Ainda não lí esse livro. Estou atrasada? rss
=*