terça-feira, 24 de junho de 2008

Lembranças de adultos

O problema em encontrar velhos vizinhos ou amigos dos irmãos mais velhos ou dos pais que tinham contato com você na infância é sempre algo, digamos assim, constrangedor.
Entusiasmados com as mudanças físicas ou quem sabe por o guri que enchia a paciência dos adultos se transformou em um ser contido e até certo ponto bem-sucedido, o adulto da infância ( Hoje a diferença de idade nem parece tanta), faz questão de demonstrar o interesse pela sua vida e, pior de tudo, a tão temida intimidade. Pior mesmo, quando as "vítimas" são meninas ainda nos vinte anos e o "adulto" em questão que já te viu em trajes menores deve ser no máximo quarentão. Apesar dele não perceber que um comentário como : " Eu já vi essa menina de calcinha", pode ser a coisa mais impactante em se ouvir no meio do shopping ou em um ônibus lotado, porque todo mundo te olha e tenta te imaginar assim, não da forma como ele tá pensando, se é que vocês me entendem.
Sempre acontece comigo. Cada vez que eu escuto a frase ( acredite, quase sempre da mesma pessoa, acompanhado de outra que não tem nenhum interesse em saber onde e quando ele viu meu corpo), eu penso que vai ser seguida do complemento: " Esse corpo aí, eu conheço todinho", já começo a ficar trêmula.
Será que ninguém percebe que quando se tem menos de dez anos, qualquer coisa que você vista não pode ser descrito em detalhes. Uma calcinha, por exemplo, tem toda uma conotação de sensualidade e erotismo o que nunca foi meu caso e nem é o caso de roupas infantis. É bem verdade que cresci e fiquei mais ajeitadinha, mais cintura, mais vaidosa até comecei a pentear direito meus cabelos rebeldes, mas minha sensualidade é a mesma que a de um poste. Não me queixo disso e nem estou pedindo elogios, mesmo assim, sou uma mocinha crescida e esses comentários, apesar de carinhosos, são complicados, até porque a eu com menos de dez anos é muito diferente da eu de hoje. Nem sei se meu aspecto físico poderia ser comparado ao de uma pessoa. Era uma mistura de cabelos desgrenhados, magreza e calcinha correndo ( diga-se de passagem eram cheias de babados floridos. Bonita, não?). Eu era uma despudorada, não curtia roupa não. Nos tempos de hoje com tanta pedofilia, eu era um risco, ainda bem que os frequentadores da minha casa, realmente me viam como criança. E eu tenho uma sorte terrivel em confrontos com o passado, fui aluna de um amigo da minha irmã, meu pai tem amigos de longas datas que olhavam aquela criança e hoje fazem uma relação com a minha imagem atual ( volto a dizer, o et saiu deste corpo quando eu fiquei maiorzinha)
Nunca poderei explicar o meu caso de dupla identidade para os amigos dos meus pais e das minhas irmãs, o jeito é confirmar com um aceno de cabeça e um sorriso amarelo toda vez que alguém falar das minhas calcinhas infantis. É bem verdade que todas as vezes eu desejo matar alguém, mas o jeito é rir quando se prendem a riqueza dos detalhes da minha meninice, a única coisa que eu posso fazer é evitar trajes marcantes em casa, para evitar constrangimentos futuros.

1 sobrou pra você!:

Tangerine disse...

eles bagunçam o cabelo, beliscam a bochecha da gente, dizem "nossa como você cresceu" e ainda comentam que te viram de calcinha. E tu ainda diz que não tem pedofilia. Aiaiai...
Brincadeira moça, não resisti. Saudades...